Snipers - União Soviética

Segunda Guerra Mundial
Atuação:
Frente Oriental - 1941 / 1945


Os atiradores de elite ou franco-atiradores (snipers) da União Soviética desempenharam um importante papel na Frente Oriental durante a Segunda Guerra Mundial. No período do conflito, acredita-se que mais de 400.000 indivíduos, incluindo partisans, tenham recebido treinamento básico de atiradores de elite do Exército Vermelho e, desses, 9.534 obtiveram qualificações de nível superior. Sua formação teve início em 1932 sob a supervisão de Kliment Voroshilov. Em 1938, atiradores do Exército Vermelho participaram da Batalha do Lago Khasan contra as tropas do Exército Imperial Japonês. O uso soviético de franco-atiradores mais bem sucedido durante a Segunda Guerra foi nos estágios defensivos (1941-1943), após os quais a vantagem mudou para o lado alemão e seus franco-atiradores se tornaram um perigo real para os soviéticos em seu contra-ataque. As doutrinas militares soviéticas incluíam atiradores de elite a nível de esquadrão. Eles o faziam porque a capacidade de engajamento de longo alcance foi perdida para as tropas comuns quando as submetralhadoras (que são otimizadas para combates de curto alcance e fogo rápido) foram adotadas. Segundo essas diretrizes usavam-se franco-atiradores para fornecer fogo supressivo de longa distância e para eliminar alvos de oportunidades, especialmente líderes, porque durante o conflito as organizações militares tinham grande dificuldade em substituir os oficiais não comissionados experientes e oficiais de campo. Eles descobriram que os rifles sniper mais caros de produzir e com bom acabamento poderiam igualar a relação custo-benefício de um rifle de assalto mais barato, dada a boa seleção de pessoal, treinamento e obediência à doutrina.

Após a introdução do rifle sniper Dragunov, o exército soviético operava com atiradores de elite em nível de pelotão e eram escolhidos entre os melhores homens que concluíam o treinamento específico. Estima-se que esses atiradores tenham 50% de probabilidade de acertar um alvo do tamanho de um homem à distância de 800 metros, e uma probabilidade de 80% de acertar um alvo do tamanho de um homem à cerca de 500 metros. Para distâncias não superiores a 200 metros, a probabilidade foi estimada para ser bem acima de 90%. Para atingir esse nível de precisão, o atirador não poderia engajar mais do que dois desses alvos por minuto. O primeiro rifle sniper soviético foi projetado em 1927, denominado Mosin Dragoon, com calibre 7.62 mm e visor ótico D-III. Em 1941, o trabalho começou no desenvolvimento do Mosin-Nagant, que a partir do ano seguinte se tornou o rifle sniper padrão das tropas soviéticas em combate. A versão de franco-atirador do rifle Mosin-Nagant foi usada antes, durante e depois da Segunda Guerra Mundial. Usava o mecanismo de acionamento do rifle de infantaria padrão 1891/30 como plataforma, embora os rifles destinados à conversão fossem selecionados a dedo por questões de qualidade e precisão. Eram equipados inicialmente com o visor ótico PE, que era uma cópia de um visor alemão da Zeiss e posteriormente substituído pelo modelo PEM, mais confiável e fácil de produzir. Até hoje, o Mosin-Nagant continua sendo o rifle sniper mais amplamente produzido e mais usado no mundo, e permaneceu como o principal rifle sniper da União Soviética até ser substituído em 1962 pelo rifle semi-automático SVD Dragunov. Ao contrário de muitas forças militares da época, no Exército Vermelho as mulheres também podiam atuar como atiradoras. Entre 1941-1945, um total de 2.484 mulheres soviéticas estavam operando nesta função, das quais cerca de 500 sobreviveram à guerra, e eram ótimas atiradoras de longo alcance por causa de sua flexibilidade, astúcia e paciência. A aluna mais jovem da escola de atiradores era Klavdiya Kalugina, de 17 anos, a qual é creditada 257 mortes alemãs.

Dentre tantos atiradores de elite soviéticos que se destacaram durante a Segunda Guerra, muitos, heróis anônimos, citaremos alguns que se tornaram verdadeiras lendas. Nos Montes Urais da Rússia, um jovem Vasily Zaytsev aperfeiçoou sua habilidade como atirador caçando cervos e lobos. Ele serviu na Marinha soviética como suboficial e quando os alemães invadiram o país, ele pediu para ser transferido para o Exército e se ofereceu para ir para as linhas de frente. A tática de Zaytsev de cobrir uma vasta área de três pontos, com um franco-atirador e um observador em cada posto avançado, ainda está em uso até hoje. Durante a Batalha de Stalingrado, ele matou 225 soldados alemães e 11 snipers inimigos. Ele ganhou pelo menos 16 medalhas por seus serviços na guerra e o rifle que ele usou em Stalingrado está exposto no Museu de Defesa de Volgograd. O ator inglês Jude Law interpretou Zaytsev no filme "Enemy at the Gates" ("Círculo de Fogo", no Brasil). Conhecida como "Lady Death" ("Senhora Morte", em português), Lyudmila Pavlichenko era uma atiradora tão eficaz que os nazistas tentaram suborná-la para trocar de lado. Aluna de História na Universidade de Kiev quando a Alemanha iniciou sua ocupação, a jovem de 24 anos entrou na primeira leva de voluntários para defender sua pátria, atuando junto à 25ª Divisão de Rifles de Chapayev. Durante sua defesa de Sevastopol, Pavlichenko tornou-se uma mulher com uma reputação de precisão mortal e capaz de efetuar longas missões de contra-sniper. Com um total de 309 mortes confirmadas, foi uma das mais bem sucedidas franco-atiradores de toda a guerra e a melhor atiradora da História.

Trocando a faculdade de arte pela a escola de infantaria, Ivan Sidorenko se tornou um franco-atirador autodidata e ganhou a cobiçada medalha de "Herói da União Soviética". Como comandante assistente do 1122º Regimento de Rifles, lutou e ensinou na Frente Báltica. Em uma de suas missões mais famosas, ele explodiu três veículos blindados e um tanque com munição incendiária. Ele empregou um rifle russo Mosin-Nagant com uma mira telescópica. Com 500 mortes confirmadas, Sidorenko foi o mais bem sucedido dos snipers soviéticos da Segunda Guerra Mundial. Roza Shanina demonstrou sua determinação desde jovem, quando aos 14 anos, Shanina fugiu de sua aldeia natal para frequentar a faculdade em Arkhangelsk. Trabalhando em um jardim de infância durante o dia, ela se formou em 1942 quando Arkhangelsk foi atingida por bombas alemãs. Veio então a notícia de que seu irmão de 19 anos havia morrido no cerco de Leningrado e Shanina, agora com 17 anos, se matriculou na Academia Central Feminina de Atiradores de Elite. Tendo se destacado no treinamento ela poderia se tornar instrutora de tiro mas solicitou seu envio para as linhas de frente. Com 59 mortes confirmadas durante sua carreira relativamente curta, Shanina foi apelidada de “terror invisível da Prússia Oriental”. Sua precisão era lendária e ela frequentemente acertava dois alvos em rápida sucessão, com relativa facilidade. Ela foi a primeira atiradora soviética a receber a "Ordem da Glória". Mas em 27 de janeiro de 1945, enquanto protegia um oficial ferido foi atingida no peito por estilhaços de uma bomba, vindo a falecer. Nascido na área rural, Vasilij Kvachantiradze trabalhou na pequena fazenda de seus pais e sonhava em começar seu próprio negócio em Moscou. Mas o início da guerra levou-o a se juntar ao Exército Vermelho em 1941. Provando-se um excelente atirador, ele se juntou aos snipers do 259º Regimento de Infantaria, onde tinha como parceiro outro atirador mortal, Fyodor Okhlopkov. Juntos, eles se tornaram uma equipe de atiradores de elite altamente temida, com um total de 644 mortes entre eles. Em seus quatro anos como atirador, Kvachantiradze foi pessoalmente responsável por 534 mortes. Sua especialidade foi criar armadilhas e emboscadas, o que impediu sua captura e confundiu o inimigo. As numerosas medalhas e elogios de Kvachantiradze incluem as comendas "Herói da União Soviética", "Estrela de Ouro de Ordem de Lenin", "Ordem da Bandeira Vermelha", "Ordem da Guerra Patriótica" e a "Ordem da Estrela Vermelha".




www.militarypower.com.br
Sua revista digital de assuntos militares