Na vida há raras oportunidades que não podemos deixar escapar.
Para mim, estudioso e apaixonado pelos temas militares, uma dessas situações
ocorre de dois em dois anos, próximo de meu "quintal".
E materializa-se através da LAAD - Latin America Aero & Defense,
versão 2011, uma espécie de Disneylândia dos profissionais
e aficcionados da área. Metáforas à parte, é
muito bom participar do evento, não só por verificar in
loco as novidades do setor de defesa, como também por rever
os amigos que atuam nos diversos segmentos. Raridade mesmo é poder
ver de perto o Mil Mi-35M, novo helicóptero de ataque da FAB, primeiro
equipamento de origem russa a ser incorporado ao inventário da
Força Aérea, com a designação AH-2 Sabre.
Pertencentes ao 2°/8º G.Av. Esquadrão Poti, os Mi-35M
operam a partir da Base Aérea de Porto Velho, em Rondônia,
o que dificultaria sobremaneira uma visão da aeronave tão
de perto como a proporcionada por sua exposição estática
na LAAD 2011. O lendário helicóptero, até então
só visto em filmes ou nas páginas dos livros, estava ali,
imponente, ao alcance de nossas mãos. E realmente impressiona,
embora sem o design apurado dos helicópteros
ocidentais, porém equipado com sistemas avançados (é
a versão mais recente do Mi-35, melhor equipado dos que os da Venezuela)
que permitem o cumprimento de suas missões de forma eficiente,
dentro das expectativas da FAB. Segundo um oficial, a aeronave tem se
comportado muito bem no clima quente e úmido da Amazônia,
com boa reserva de potência de seus motores, atuando tanto de dia
como em missões noturnas. Próximo dali estavam expostos
os três primeiros helicópteros EC 725 Super Cougar, entregues
às FFAA, da encomenda de 50 aeronaves novas de fábrica.
Já ostentando a pintura e as insígnias de seus esquadrões,
os EC 725 chamam a atenção por seu tamanho, cerca de 1,5
m maior que os Cougar do Exército Brasileiro. Por dentro, um acabamento
mais esmerado da cabine de carga e um painel totalmente digital (glass
cockpit), com seis telas multifunção de cristal líquido.
Em frente ao estande da Avibrás uma curiosidade: o VANT (Veículo
Aéreo Não Tripulado) "Falcão", com peso
de decolagem de 650 kg, podendo carregar 150 kg de sensores, a distâncias
de até 2.500 km, com uma autonomia de 15 horas.
Observamos também um exemplar dos blindados M-113 dos Fuzileiros
Navais, que estão sendo modernizados pela empresa israelense IMI.
Dentro dos pavilhões (este ano a área da Feira foi ampliada,
utilizando-se os pavilhões 3 e 4 do Riocentro), os estandes dos
gigantes da indústria bélica mundial dominavam as entradas,
como um cartão de visitas do que iríamos encontrar mais
adiante. Como nas edições anteriores, notava-se o capricho
na montagem dos expositores e a organização do evento, tudo
para facilitar a visita do público especializado e propiciar um
ambiente adequado aos contatos comerciais. Neste particular, algumas empresas
aproveitaram a oportunidade para anunciar o lançamento de novos
produtos, comunicar ao mercado a aquisição de empresas do
setor ou a formação de parcerias estratégicas. A
Embraer Defesa e Segurança informou ter adquirido 50% do capital
social da Atech S.A. e a criação de um acordo estratégico
com a AEL Sistemas (antiga Aeroeletrônica, pertencente à
israelense Elbit Systems) com ênfase no desenvolvimento de tecnologia
para o mercado de VANTs. Na Mectron, agora com o apoio financeiro da Oderbrecht,
os técnicos de nossa tradicional missile house mostravam-se
mais otimistas quanto à possibilidade de acelerar o desenvolvimento
de vários tipos de mísseis
e de poder contar com melhor estrutura para alavancar possíveis
exportações de seus produtos. A empresa Ares Aeroespacial
apresentou sua linha de lançadores e foguetes calibre 70 mm, em
um estande bem montado refletindo a sua aquisição pela Elbit
Systems, esta cada vez mais atuante no Brasil, onde iniciou suas atividades
em conformidade com as políticas de offset da FAB, no início
da década de 2000. Destaque também para a brasileira Britanite,
onde vislumbramos a maquete de grande foguete que trazia em sua parte
frontal o veículo hipersônico 14-X, aeronave experimental
do Centro Tecnológico da Aeronáutica (CTA), além
da exposição de suas "bombas inteligentes" cuja
principal representante é a SMKB-82 totalmente desenvolvida no
país, com orientação por GPS/INS, podendo ser lançada
a uma distância de até 24 km do alvo e com Circular Error
Probable (CEP) de menos de 6 metros.
As empresas de aviação Dassault, Boeing e SAAB, continuavam
sua saga na busca do "pote de ouro" no fim do arco-íris
(Projeto F-X2) da Força Aérea Brasileira, com estandes suntuosos,
todos com simuladores de vôo de suas respectivas aeronaves de combate,
tentando cada uma a seu modo impressionar àqueles que de uma forma
ou de outra possam influenciar na decisão final do programa. Por
falar em impressionar, os grandes estaleiros da Europa, como DCNS francês,
Navantia espanhol, Fincantieri italiano, BAE Systems inglês e ThyssenKrupp
alemão se apresentavam como fortes candidatos a uma parceria com
a Marinha do Brasil, para
a construção de um lote inicial de cinco navios escolta
de 6.000 ton., cinco navios de patrulha oceânica (OPV) de 1.800
ton. e um navio de apoio logistíco de 30.000 ton., no denominado
PROSUPER (Programa de Obtenção de Meios de Superfície).
Diversos veículos blindados 4x4 marcaram presença entre
eles o URO-VAMTAC amplamente utilizado pelo Exército espanhol,
o nacional Gladiador fabricado pelo Grupo Inbrafiltro que alcançou
excelentes resultados em um teste comparativo, superando seus similares
de outros países e o Marauder fabricado pela empresa sul-africana
Paramount, de grandes dimensões e preparado para resistir a explosões
de minas terrestres. No tocante a caminhões militares, a Volkswagen
estava presente com seu modelo aprovado e com cerca de 250 unidades encomendadas
pelo Exército Brasileiro, a francesa Renault expôs sua linha
completa, a sueca Scania trouxe um veículo 6x6 pesado utilizado
pelo Exército finlandês e a Iveco mostrou também a
sua versão específica para as FFAA. Os fabricantes nacionais
de armas de fogo e munições, CBC, Condor, Taurus e Imbel
estavam agrupadas em um setor logo na entrada do pavilhão 3, em
estandes visualmente agradáveis.
Nos ativemos a conhecer mais detalhadamente o fuzil
de assalto IA2 (Imbel A2), que tem uma aparência bem mais moderna
do que seu antecessor MD97, com o uso extensivo de polímeros que
o tornaram mais leve, uma coronha redesenhada e bem mais ergonômica,
trazendo na parte superior um trilho tipo Picatinny, onde podem ser acoplados
diversos acessórios, como empunhaduras de apoio, lanternas ou miras
optrônicas. A arma de calibre 5.56 mm pesa cerca de 3,7 kg sem o
carregador e possui seletor de tiro (automático/semiautomático),
estando prevista também a sua fabricação na versão
PARAFAL IA2 e PARAFAL de assalto IA2, ambos no calibre 7.62 mm. Segundo
um engenheiro da Imbel, o fuzil já foi testado exaustivamente pelo
Exército Brasileiro que o teria aprovado para uso operacional,
estando em fase final a assinatura de um contrato para a fabricação
das primeiras unidades de série. Se na área externa o Mi-35M
monopolizava a atenção dos visitantes, na área interna
o estande da Iveco do Brasil era um dos mais concorridos, já que
ali estava exposto o primeiro protótipo totalmente equipado do
blindado 6x6 VBTP Guarani, inclusive com o sistema de armas remotamente
controlado UT30BR, com canhão de 30 mm e metralhadora 7.62 mm,
o qual seria enviado após a LAAD 2011 para o campo de provas do
Exército na restinga de Marambaia, para avaliação
e ajustes necessários ao lote de pré-produção.
Já o havia visto há dois anos atrás, porém
somente a estrutura externa sem pintura camuflada, blindagem adicional,
motor ou acabamento interno. Agora estava ali, completo como se estivesse
pronto para o combate. Com seus quase 7 metros de comprimento e podendo
levar 9 soldados completamente equipados, é um blindado que nos
enche de orgulho e nos deixa esperançosos de melhores dias para
a indústria nacional de veículos de combate. Finalmente
gostaria de ressaltar o grande prazer que é reencontrar os amigos
que fizemos ao longo desses anos de "militância" no setor,
sejam eles representantes das indústrias, editores e jornalistas
das revistas especializadas, administradores de sites parceiros ou simples
apaixonados pelo tema. Só isto já valeria a nossa participação
na LAAD 2011, que mais uma vez estabeleceu novos recordes de público
visitante, de número de expositores e de área montada para
a Feira, o que demonstra o sucesso da inicitativa em sua oitava edição
e a certeza de que a LAAD 2013 será coroada de êxito. E nós
do Military Power, é claro, não pretendemos ficar de fora.
Portanto, até lá!
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