Os Boinas Verdes (Green Berets), são uma unidade
de forças especiais do Exército Americano (US
Army) especializada em guerra não convencional. Criada
em 1952, foram muito ativos na Guerra
do Vietnã nos anos 60 e 70, inicialmente
como assessores militares, porém com a escalada do conflito
passaram a executar também ações de comandos.
Além disso, foram enviados a governos apoiados pelos
Estados Unidos ao redor do mundo para ajudar a combater insurgências
de guerrilha. Em 20 de novembro de 1970 às 18hs o coronel
Arthur "Bull" Simons, vice-comandante da operação,
se apresentou no auditório da Base Aérea e puxou
um mapa do Vietnã do Norte. Hanói estava circulada,
com a cidade de Son Tay nas proximidades. Simons tocou a região
no mapa e disse: "É para lá que estamos
indo hoje à noite, rapazes. Vamos resgatar até
70 prisioneiros de guerra. Os americanos têm o direito
de esperar isso de seus companheiros soldados. Temos 50% de
chance de não conseguir voltar. Se você não
quer ir, agora é a hora de dizer isso." O auditório
ficou em silêncio mortal por cerca de cinco segundos e
então os homens pularam de seus assentos, se abraçando
e gritando: "Vamos pegá-los!". Todos
reconheceram o imperativo moral da missão “não
deixar ninguém para trás”. Acreditavam
também que quando os prisioneiros de guerra resgatados
revelassem o tratamento brutal que receberam em cativeiro, isso
poderia ajudar a virar a opinião mundial contra os norte-vietnamitas
e forçá-los a voltar às negociações
de paz paralisadas em Paris. Em maio de 1970, analistas de inteligência
em uma unidade que controlava os prisioneiros de guerra notaram
fotos de novas construções em um complexo em Son
Tay, junto com uniformes de prisioneiros de guerra dispostos
para secar no chão de uma maneira que soletrava um código
para busca e resgate. Uma pilha de terra lembrava um “K”,
que significa “Venham nos resgatar”. A prisão,
23 milhas a noroeste de Hanói, era relativamente isolada
por uma curva de rio com apenas uma ponte ao norte. Cerca de
12.000 tropas inimigas espreitavam em instalações
militares a 15 minutos dali. O ataque foi planejado para ocorrer
em 26 minutos, antes que reforços inimigos pudessem ser
alertados e chegar. Um helicóptero seria necessário
para lançar uma força de ataque principal dentro
dos muros da prisão, que continham três torres
de guarda. Os helicópteros de busca e resgate HH-53
"Super Jolly Green Giant" e UH-1 Huey
da Força Aérea eram a melhor escolha para inserir
os comandos e recolher os prisioneiros libertados. Cinco aviões
de ataque turbohélice A-1E Skyraider circulariam
acima da prisão para manter as forças terrestres
se aproximando sob controle, se necessário. Dois aviões
de transporte MC-130E Combat Talon, com equipamentos
altamente confidenciais projetados para navegação
precisa e operações furtivas, guiariam as aeronaves
e os helicópteros até a prisão. Atacando
à noite, uma lua crescente logo acima do horizonte ofereceria
boa visibilidade, ao mesmo tempo em que forneceria cobertura
noturna em céus limpos. Essas condições
determinaram a janela de tempo para o ataque à prisão,
dois períodos de cinco dias no final de outubro e no
final de novembro, previstos como os meses mais secos. O Brigadeiro-General
da Força Aérea LeRoy Manor foi nomeado comandante
geral da missão. Manor tinha uma tarefa especialmente
difícil, coordenando o planejamento (mapa
da operação) com operadores especiais
da Força Aérea espalhados pela Flórida,
Carolina do Sul e Alemanha. Exceto por um punhado de oficiais
superiores e planejadores, os comandos não tinham ideia
de para onde estavam indo ou exatamente o que fariam.
O treinamento começou em setembro na Base Aérea
de Eglin, Flórida. Os homens praticaram em uma maquete
em escala real do campo de prisioneiros construída com
tábuas e tecido para que não aparecesse em satélites
espiões soviéticos que ocasionalmente passassem
sobre a área. A CIA também forneceu
um modelo mais detalhado do campo de prisioneiros em uma grande
mesa, tão realista que durante o ataque se avistou uma
bicicleta encostada em um prédio no local exato do modelo.
A planta baixa exigia três pelotões consistindo
de 56 soldados das Forças Especiais no total. O pelotão
Blueboy, com 14 homens, era a unidade de assalto no
UH-1 Huey que abriria um buraco no canto sudoeste do
muro para os prisioneiros de guerra escaparem. O pelotão
Greenleaf de 22 homens em um HH-53 Super
Jolly forneceria suporte de segurança para o leste
e norte, como limpar edifícios e explodir a ponte. O
pelotão Redwine em outro Super Jolly,
deveria proteger a área ao sul da prisão e preparar
uma área de pouso para os helicópteros. Cada pelotão
treinou para planos alternativos, assim se uma equipe não
chegasse a Son Tay, o ataque ainda poderia ser executado pelas
outras equipes (infográfico).
Os aviões MC-130E Combat Talon e os helicópteros
voaram em rotas de treinamento ao redor da Flórida, Geórgia
e Alabama. Na fase final de treinamento, as forças aéreas
e terrestres praticaram juntas e para maior conforto no translado
o UH-1 Huey foi substituído por outro H-3E
Jolly Green Giant. No entanto, o HH-3E ficaria tão
apertado dentro dos muros da prisão que os pilotos teriam
que fazer uma queda controlada no complexo. À medida
que o treinamento progredia, Manor se deslocou para o Sudeste
Asiático e se encontrou com oficiais da Marinha, que
tinham ordens para lançar aeronaves de três porta-aviões,
o USS Oriskany, USS Hancock e USS Ranger,
no Golfo de Tonkin, para desviar a atenção da
artilharia antiaérea e dos mísseis terra-ar do
Vietnã do Norte para longe de Son Tay. Em 18 de novembro,
o presidente Nixon deu sua aprovação final. Na
noite do dia 20, os MC-130E decolaram de uma Base na
Tailândia às 22h25 e seguiram para seu ponto de
encontro com os cinco A-1E Skyraiders. Os seis helicópteros
que conduziriam o resgate partiram da Base tailandesa de Udorn,
com três (um H-3E e dois dos helicópteros
HH-53), transportando a força de assalto e os
outros três HH-53 seguiam vazios para embarcar
os prisioneiros resgatados. As aeronaves reabasteceram sobre
o Laos. Por volta de 1h da manhã, os porta-aviões
da Marinha lançaram 59 aviões de caça,
ataque e apoio. Conforme os Boinas Verdes se aproximavam de
Son Tay, os radares norte-vietnamitas apontavam para o leste,
para o ataque diversionário da Marinha e para os F-4
Phantom e F-105 Thunderbolt acima
(aeronaves
da operação). O equipamento no MC-130E
mostrou radares inimigos escaneando rotineiramente, mas falhando
em detectar a força invasora que se aproximava. Às
2h16, após três horas de voo, a formação
de assalto chegou a um ponto planejado a 5 km de Son Tay. Um
dos MC-130E transmitiu um rumo final para os helicópteros
com destino ao campo de prisioneiros e então voou à
frente. Dois dos helicópteros HH-53 vazios pousaram
nas proximidades, esperando a chamada de coleta dos prisioneiros.
Às 2h18, o comando "executar" chegou pelo rádio:
"Alfa! Alfa! Alfa!"
O MC-130E chegou sobre o complexo
da prisão e lançou quatro sinalizadores brilhantes
o suficiente para iluminar o campo abaixo como se fosse dia.
O major Frederic “Marty” Donahue virou seu helicóptero
HH-53 armado com metralhadoras pesadas para voar sobre
o acampamento entre duas torres de guarda. Ele ignorou uma luz
de advertência que sinalizava um problema de motor enquanto
seus artilheiros disparavam 4.000 tiros por minuto nas torres
de guarda, derrubando a torre sudoeste crítica. Os artilheiros
então metralharam outros edifícios. Balas traçantes
acenderam um incêndio em um quartel. O complexo estava
pronto para o HH-3E do Blueboy. Enquanto os
helicópteros que transportavam a força terrestre
se moviam em direção aos seus pontos de pouso,
outro MC-130E lançou sinalizadores e outros
dispositivos incendiários do lado de fora da prisão
para criar distrações para os soldados inimigos
na área. Os homens do pelotão Blueboy
agacharam-se perto das portas do helicóptero e alguns
estavam deitados na rampa aberta. A queda controlada do HH-3E
dentro do complexo da prisão foi muito mais violenta
do que o esperado. Quando os rotores atingiram as árvores,
o helicóptero sacudiu violentamente para a direita e
jogou o 1º tenente George Petrie para fora da porta direita,
realizando seu desejo de ser o primeiro invasor no solo. Ele
tinha motivação extra: seu primo, o tenente-comandante
da Marinha James Hickerson, era um dos prisioneiros (POW
- Prisoner of War) A queda não atrasou
ninguém. Enquanto galhos de árvores cortados choviam
por todo lado, os comandos atacaram o que restava da torre de
guarda sudoeste e se prepararam para explodir um buraco de saída.
O líder do Blueboy, Capitão Richard "Dick"
Meadows, gritou em um megafone: "Somos americanos!
Estamos aqui para resgatá-los!" Os homens invadiram
algumas celas, mas não encontraram prisioneiros de guerra,
mas continuaram procurando. O piloto do pelotão Greenleaf
pousou por engano numa escola próxima e os comandos saíram
do helicóptero e seguiram em direção aos
seus alvos, mas rapidamente perceberam que algo estava errado.
Simons, viajando com o pelotão, pediu uma extração.
Nos quatro minutos que aguardavam o resgate seus homens neutralizaram
ocupantes da escola, homens armados que pareciam muito maiores
do que a média dos vietnamitas e eram possivelmente conselheiros
militares chineses. O piloto do pelotão Redwine
pousou do lado de fora do muro da prisão e ainda na rampa
do helicóptero, Buckler disparou sua M16 contra
um guarda que atirava nos invasores enquanto eles corriam para
assumir algumas das tarefas do pelotão Greenleaf,
bem como as suas próprias.
Com a força terrestre reduzida incapaz de destruir a
ponte ao norte, os pilotos dos A-1E Skyraider
lançaram bombas de fragmentação sobre ela.
Um grupo do Redwine explodiu um poste de concreto e
cortou a energia em partes de Son Tay. No meio da comoção,
o pelotão Greenleaf chegou para se juntar à
luta. A essa altura, Buckler tinha ouvido no seu rádio
as palavras "itens negativos", onde "itens"
era a palavra-código para prisioneiros de guerra, ou
seja nenhum prisioneiro encontrado no local. Simons não
conseguia acreditar. "Verifique novamente", ele exigiu.
Então avançou e verificou as celas e não
encontrou ninguém. Às 2h30, após 11 minutos
de ataque, Sydnor pediu a retirada. Os dois HH-53 da
liderança voaram de volta para pegar os homens, que deixaram
uma carga no HH-3E do pátio para destruí-lo.
Enquanto isso, os norte-vietnamitas perceberam que estavam sob
ataque e lançaram seus primeiros mísseis SAM
(Surface-to-Air Missile) contra os
invasores. Às 2h45, 26 minutos após a queda no
pátio, um HH-53 decolou com o último
da força terrestre. Os Boina Verdes sofreram apenas duas
baixas: um comando com um tiro na perna (a única baixa
de "fogo inimigo") e um membro da tripulação
do HH-3E com um tornozelo quebrado na queda controlada.
Manor e Simons voaram para Washington para uma entrevista coletiva
em 23 de novembro. Os oficiais enfatizaram a bravura de seus
homens e a dificuldade de localizar campos de prisioneiros de
guerra, mas alguns na imprensa se concentraram na aparente falha
dos serviços de Inteligência. Evidências
posteriores mostraram que os prisioneiros de guerra haviam sido
movidos, mas essa informação não havia
sido transmitida aos tomadores de decisão final, que
naquele momento estavam a apenas duas horas do lançamento
da missão. O sigilo rígido para evitar vazamentos
provavelmente foi um fator contribuinte para que isto ocorresse.
No entanto, o ataque estava longe de ser um fracasso. Chocados
com a facilidade com que os Boinas Verdes entraram e saíram
do país, os norte-vietnamitas concentraram os prisioneiros
de guerra na famosa prisão "Hanoi Hilton"
para dificultar futuras tentativas de resgate. Ironicamente
esta foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para os prisioneiros,
além do resgate. O coronel aposentado Leon "Lee"
Ellis, um dos prisioneiros de guerra de Son Tay, diz que durante
o ataque os prisioneiros sabiam que algo estava acontecendo,
em seu novo acampamento a cerca de 10 milhas de distância,
quando a energia acabou, e ouviram explosões em Son Tay,
seguidas pelos lançamentos de mísseis SAM.
Dois dias depois, os guardas entraram nas celas "com medo
nos olhos" e moveram os prisioneiros para Hanói.
Os prisioneiros de guerra que antes estavam em confinamento
solitário agora ficavam com dezenas de homens e oficiais
organizaram uma ala com uma cadeia de comando militar, os prisioneiros
davam aulas uns aos outros, tinham palestrantes noturnos e realizavam
serviços religiosos secretamente. Por suas ações,
todos os Boina Verdes que participaram do ataque a Son Tay receberam
medalhas por sua bravura em combate. Em 1979, Simons liderou
o resgate de dois funcionários de uma petroleira americana
de uma prisão no Irã. O planejamento e a execução
do ataque de Son Tay se tornaram um modelo para forças
de operações especiais, como o resgate de 2003
da soldado do Exército Jessica Lynch, capturada durante
a Guerra do Iraque, e o ataque
para capturar Osama bin Laden em 2011.