O Centro de Lançamentos de Alcântara, o VLS e a conquista do espaço

O VLS pronto para o lançamento O homem sempre sonhou alcançar as estrelas. É um desejo intrínseco de conquistar novos horizontes, novas fronteiras. Os Estados Unidos já planejam para 2008-2010 a primeira viagem tripulada a Marte. Americanos e russos sempre disputaram palmo a palmo (ou seria quilômetro a quilômetro?) a corrida pelas conquistas espaciais. A partir dos anos 50 elas se avolumaram: primeiro satélite artificial em órbita (Sputinik), primeiro homem a orbitar a Terra (Iuri Gagarin), missão não tripulada à Lua (Lunar Orbiter 1 e 2), a série de foguetes gigantescos Apollo, o homem pisando no solo lunar no final da década de 60 (missão Apollo 11), as diversas missões não tripuladas a alguns de nossos planetas vizinhos (Venera, Mariner, Pioneer, Voyager, etc) e o ônibus espacial Columbia e seus irmãos gêmeos. Mas todas estas conquistas só foram possíveis graças ao trabalho intenso de cientistas alemães, que após o término da Segunda Guerra Mundial, foram levados para os Estados Unidos (Wernher von Braun e sua equipe) e para a extinta União Soviética (Helmut Grottrup e sua equipe), juntamente com centenas de foguetes V-1 e V-2 capturados intactos, para serem estudados e aperfeiçoados.

Neste período o Brasil também sonhava alcançar as estrelas. Invariavelmente acordava para sua situação econômica e de atraso tecnológico que o impedia de transformá-lo em realidade. Mas nunca deixamos de acreditar nele. Criamos o Centro Técnico Aeroespacial (CTA), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), construimos a série de foguetes Sonda da qual se originou o nosso Veículo Lançador de Satélites (VLS) e a Base de Lançamentos de Alcântara, no Maranhão. Esta, por se localizar próxima à linha do Equador, propicia lançamentos de satélites com economia de 30% de combustível, colocando-se entre as melhores para essa atividade. E o mercado não é pequeno. Calcula-se que até 2007 a colocação de satélites em órbita deverá gerar receitas globais de US$ 45 bilhões, 80% dominado por empresas americanas.

Somente cinco países possuem tecnologia para disputá-lo: Estados Unidos, Rússia, Japão, China e França (associada a outros países europeus). O Brasil poderá ser o sexto, mas parece que isto incomodará certos interesses internacionais. Os Estados Unidos tentam um acordo para usar o Centro de Alcântara, pagando US$ 2 milhões por lançamento, quando nos cobram US$ 15 milhões em Cabo Canaveral, na Flórida; exigem salvaguardas tecnológicas, uso exclusivo do local por americanos durante a preparação e lançamento dos foguetes, containers lacrados que não poderiam ser vistoriados por brasileiros e ainda querem impedir que usemos o dinheiro arrecadado no desenvolvimento de nosso próprio foguete. O VLS é um projeto criado pelo Centro Técnico Aeroespacial, há 20 anos (não esqueçam que não tivemos a ajuda dos brilhantes cientistas alemães), que consumiu US$ 500 milhões no período e já foi lançado em duas oportunidades, em 1997 e 1999, sem êxito. Mas russos e americanos não chegaram lá de graça. O custo foi bastante alto em vidas e materiais perdidos ao longo de 50 anos.

Estamos preparando um terceiro VLS, que temos certeza subirá até a órbita estabelecida, levando nossa bandeira até o espaço sideral. Caso ocorra algum imprevisto, tentaremos de novo, e de novo, até que logremos êxito. O Acordo Brasil-Estados Unidos para uso de Alcântara está sofrendo revisões na Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal, para retirada de algumas das cláusulas que nos são desfavoráveis e alteração de outras. A conquista do espaço não é uma vaidade nacional. É uma necessidade. Propicia avanços na engenharia, na medicina, na biologia molecular, química, física e desenvolve materiais que tornam nossas vidas mais confortáveis e seguras. O Governo e a sociedade brasileira devem estar cientes disto. Temos cientistas capazes e dedicados, um local adequado, um foguete muito bom. Temos um sonho e vamos realizá-lo.





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