O código Navajo

Como funcionava o código que foi um dos segredos mais bem guardados da Segunda Guerra.



Operador de rádio da nação Navajo em ação nas ilhas do Pacífico. Se o projeto do Colossus, o primeiro computador, e da máquina decifradora Ultra foram um arauto de uma nova era da civilização humana, a extraordinária idéia de se utilizar indígenas da nação Navajo como operadores de rádio nos remetia aos primórdios da presença humana na Terra. Brilhantemente simples, a idéia resultou em códigos de comunicação absolutamente indecifráveis para qualquer um que não tivesse familiaridade com o dialeto Navajo, pois este não possui qualquer similaridade com nenhum grupo de línguas conhecidas. O código Navajo foi um dos segredos mais bem guardados da Segunda Guerra e alguma informação mais concreta sobre ele só veio a público no fim da década de 60. A idéia surgiu um pouco depois do ataque japonês a Pearl Harbor em 1941, por sugestão de Philip Johnston um veterano da Primeira Guerra e filho de um missionário que havia trabalhado por longo tempo com o povo Navajo no sudoeste americano. Tendo crescido em uma reserva, Johnston era um dos poucos não-Navajo que falava a língua fluentemente. Ele preparou uma série de demonstrações para o comando dos Fuzileiros no Pacífico, provando que enquanto um operador levava meia hora para escrever três linhas de código com uma máquina de encriptação, um operador Navajo completava a mesma tarefa em menos de 30 segundos.

Johnston explicou que a linguagem Navajo era extremamente complexa e não possuía escrita, com centenas de palavras e uma gramática complicada, mas não existia um alfabeto. Os comandantes do USMC (United States Marine Corps) observaram como a sintaxe e a tonalidade das palavras tornavam-na ininteligível para aqueles que não estivessem familiarizados com ela. Impressionados, recomendaram o recrutamento imediato de duzentos índios Navajo, que ficariam celebrizados como os "Code Talkers". Estes homens transmitiriam mensagens codificadas entre si, na língua nativa, e quando fossem interceptadas por não-Navajos seria impossível decodificá-la. Em maio de 1942 o primeiro grupo foi mandado para Camp Elliot (hoje Marine Air Corps Station Miramar), em San Diego, para desenvolver o código e criar um dicionário com equivalentes aos termos militares. O dicionário continha cerca de 450 termos frequentemente utilizados pelos militares, sempre fazendo associações com o dialeto Navajo como por exemplo: besh-lo ("peixe de ferro" = submarino), dah-he-tih-hi ("beija-flor" = avião de caça), tacheene ("terra vermelha" = batalhão), nakia ("mexicano" = companhia), lo-tso-yazzie ("pequena baleia = cruzador) e ca-lo ("tubarão" = destróier).

Operadores Navajo transcrevendo mensagem em sua língua nativa. Os recrutas completaram o treinamento militar básico, memorizaram o dicionário e seguiram para o teatro de operações do Pacífico, onde serviram em Guadalcanal, Tarawa, Peleliu e Iwo Jima, transmitindo mensagens, divulgando táticas, movimentos de tropas e enviando ordens, através de rádios ou telefones de campanha. Ao todo mais de quatrocentos operadores Navajo atuaram no conflito. Em fevereiro de 1945 durante o desembarque em Iwo Jima, seis deles trabalharam durante dois dias seguidos transmitindo mais de 800 mensagens sem um único erro. Para se entender uma língua ou dialeto devemos buscar raízes comuns de uma determinada palavra em outras línguas como as de origem latina por exemplo (português, italiano, francês, etc). Os japoneses tinham especialistas em decifrar códigos que eram fluentes em inglês e em muitas línguas européias, mas quando buscavam por semelhanças linguísticas do dialeto Navajo, não encontravam nenhuma, pois ele não tinha nada em comum com qualquer língua do mundo.

Depois da guerra, o Tenente General Seizo Arisue, chefe de Inteligência do Exército Imperial japonês, reconheceu que sua equipe havia conseguido decifrar os códigos usados pelo US Army e pela USAF com relativa facilidade, mas admitiu que seus homens jamais haviam conseguido "quebrar" aquele estranho código usado pelos Fuzileiros. Devido a seu imenso sucesso durante a Segunda Guerra, os operadores Navajo foram considerados como uma das mais importantes armas secretas do arsenal americano e por esta razão o US Marine Corps manteve o código e as atividades dos Code Talkers, que ainda serviriam a nação na Guerra da Coréia, em segredo por mais de duas décadas. Em 17 de setembro de 1992, os operadores Navajo foram convidados pelo Pentágono para uma cerimônia especial que comemoraria o valoroso trabalho deste pequeno grupo de elite. Em 26 de julho de 2001, os vinte e nove operadores originais que desenvolveram o código/dicionário foram agraciados com a Medalha de Ouro do Congresso, entregue pelo presidente George W.Bush.





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