O Forte Ében-Émael
foi construído na década de 30, por iniciativa
do governo belga para proteger uma parte vital de sua fronteira
com a Alemanha, localizado estrategicamente 60m acima do Canal
Albert e dando cobertura às planícies de norte
a sul por quase um quilômetro, com seus principais armamentos
montados na direção do território germânico.
Com uma área de 180 x 370m possuía paredes e
tetos de concreto armado com cerca de 1,5m de espessura, além
de quatro casamatas retráteis e sessenta e quatro postos
de tiro. Estava equipado com seis peças de artilharia
de 120mm com alcance de 15km; dezesseis peças de artilharia
de 75mm; doze canhões antitanque de alta velocidade
de 60mm; vinte e cinco metralhadoras duplas; e algumas armas
antiaéreas. Um lado do Forte ficava de frente para
o canal, enquanto os outros três ficavam de frente para
terra e eram defendidos por campos minados, valas profundas,
um muro de 6m de altura, casamatas de concreto equipadas com
metralhadoras e canhões antitanque de 60mm. Muitos
túneis passavam por baixo das fortificações,
conectando torres individuais ao centro de comando e aos depósitos
de munição. Também possuía hospital,
alojamentos para a guarnição, além de
uma central elétrica exclusiva. Em 10 de maio de 1940,
a Alemanha lançou o Fall Gelb ("Plano
Amarelo"), a
invasão da Holanda e da França. Ao atacar
através da Holanda, Luxemburgo e Bélgica, o
Oberkommando der Wehrmacht (Alto Comando das Forças
Armadas) alemão planejou flanquear a Linha Maginot
e isolar a Força Expedicionária Britânica
e uma grande parte das forças francesas, forçando
o governo francês a se render. Para isto, as forças
alemãs teriam de derrotar as forças armadas
holandesas e contornar ou neutralizar várias posições
defensivas. A principal linha defensiva belga, a Linha KW
ao longo do rio Dyle, protegia o porto de Antuérpia
e a capital belga, Bruxelas. Os militares belgas designaram
uma Divisão de Infantaria para guardar as três
pontes sobre o canal na área, sendo uma brigada designada
para cada ponte. Estas eram defendidas por fortificações
equipadas com metralhadoras e o apoio de artilharia seria
fornecido pelo Forte Ében-Émael, cujas peças
de artilharia cobriam duas das pontes. Os alemães então
desenvolveram uma estratégia para tomar as três
pontes e capturar a fortaleza, permitindo que as suas Forças
rompessem as posições defensivas e avançassem
para a Holanda. A força encarregada de atacar a fortaleza
e capturar as três pontes foi formada por elementos
da 7ª e da 22ª Divisões Aéreas e foi
denominada Sturmabteilung Koch (Destacamento de Assalto
Koch) em homenagem ao seu líder, capitão Walter
Koch. Embora fosse composta principalmente por paraquedistas,
ficou decidido que os primeiros pousos deveriam ser de planadores
silenciosos, conseguindo um ataque surpresa, uma vez que os
defensores belgas não seriam capazes de detectá-los.
Cinquenta planadores de transporte DFS 230 foram
fornecidos para uso pela força de assalto e então
começou um período de treinamento intensivo.
Foi feito um estudo detalhado do Forte, das pontes e da área
local, e uma réplica da área foi construída
para o treinamento (o projeto do Forte Ében-Émael
havia sido feito por duas empresas alemães, que tinham
as plantas originais do complexo). Exercícios conjuntos
entre os paraquedistas e os pilotos de planador foram realizados
no início de 1940, bem como refinamento nos equipamentos
e táticas a serem utilizados. O capitão Koch
dividiu sua força em quatro grupos de assalto: grupo
Granite, comandado pelo tenente Rudolf Witzig, composto por
oitenta e cinco homens em onze planadores cuja tarefa seria
assaltar e capturar o Forte Ében-Émael; o grupo
Steel, comandado pelo tenente Gustav Altmann, e formado por
noventa e dois homens e nove planadores, capturaria a ponte
Veldwezelt; o grupo Concrete, comandado pelo tenente Gerhard
Schacht e composto por noventa e seis homens em onze planadores,
capturaria a ponte Vroenhoven; e o grupo Iron, sob o comando
do tenente Martin Schächter, composto por noventa homens
em dez planadores, que capturariam a ponte Kanne. O elemento
crucial para a força de assalto era o tempo. Acreditava-se
que a combinação de uma abordagem silenciosa
dos planadores e a falta de uma declaração de
guerra por parte do governo alemão daria aos atacantes
o elemento surpresa.
O plano alemão era eliminar dentro de uma hora tantas
posições antiaéreas, cúpulas e
casamatas individuais quanto fosse possível, e a todo
custo colocar fora de ação as peças de
artilharia de longo alcance que cobriam as três pontes.
A força designada para atacar o Forte Ében-Émael
deveria pousar no topo da fortaleza em onze planadores, eliminar
quaisquer defensores que tentassem repeli-los e neutralizar
toda a artilharia. Tendo alcançado os seus objetivos
iniciais de tomar as pontes e o Forte, os paraquedistas defenderiam
então as suas posições até à
chegada das forças terrestres alemãs do 18º
Exército. O Fall Gelb deveria começar
às 05h25 do dia 10 de maio e logo o Fallschirmjäger
(Tropa Paraquedista) entrou em uma pista não iluminada
às 03:00 e às 04h30, quarenta e dois planadores
transportando as 493 paraquedistas decolaram de dois aeródromos
em Colônia, virando-se para o sul em direção
aos seus objetivos, mantendo estrito silêncio de rádio.
Alguns planadores tiveram os cabos arrebentados e pousaram
ainda em território alemão, desfalcando parte
das tropas destinadas ao ataque à fortaleza. Mas os
planadores restantes foram liberados de seus cabos de reboque
a 32 km de distância de seus objetivos, a uma altitude
de 2.100 m, que foi considerada alta o suficiente e com o
ângulo correto para que os planadores pousassem nas
três pontes e no topo do Forte corretamente. Depois
que os rebocadores Junkers Ju-52 soltaram
os planadores e começaram a se afastar, as posições
da artilharia antiaérea belga os detectaram e abriram
fogo. Isso alertou as defesas da fortaleza sobre um ataque
iminente. Todos os nove planadores que transportavam as tropas
designadas para o grupo Steel pousaram próximo à
ponte em Veldwezelt às 05:20, o arame farpado enrolado
nos patins de pouso dos planadores conseguiu fazê-los
parar rapidamente. O planador pertencente ao tenente Altmann
pousou a alguma distância da ponte, e um segundo pousou
diretamente em frente a uma casamata belga, que começou
a enfrentar ambos os grupos de paraquedistas com tiros de
armas leves. O suboficial encarregado das tropas do segundo
planador lançou granadas contra a casamata enquanto
um de seus homens colocava uma carga explosiva (foram utilizados
pela primeira vez explosivos de carga oca, que geravam um
fino jato de aço fundido, com resultados devastadores)
na porta e a detonava, permitindo que o bunker fosse
atacado e removido como obstáculo. Simultaneamente,
Altmann reuniu as suas tropas e conduziu-as ao longo de uma
vala paralela à ponte até que dois homens conseguiram
chegar à margem do canal e subir nas vigas da ponte
e desativar as cargas de demolição ali colocadas
pelos defensores. Os belgas resistiram até que um pelotão
de reforços alemães chegou e os forçou
a retirar-se para uma aldeia próxima. No entanto, o
fogo de armas leves da força de assalto não
conseguiu superar dois canhões localizados a quinhentos
metros da ponte, forçando assim Altmann a pedir apoio
aéreo. Várias bombardeiros de mergulho Junkers
Ju-87 Stuka foram acionados e inutilizaram as armas.
O grupo Steel deveria ser substituído às 14h30,
mas a resistência belga impediu a sua chegada até
às 21h30.
Durante os combates, a força de ataque deixou oito
paraquedistas mortos e trinta feridos. Dez dos onze planadores
que transportavam o grupo Concrete pousaram próximo
à ponte Vroenhoven às 05h15, o décimo
primeiro planador foi atingido por fogo antiaéreo a
caminho da ponte e foi forçado a pousar prematuramente
em território holandês. Os planadores foram atacados
por Forte fogo antiaéreo, porém a maioria deles
pousou sem danos. Um aterrisou próximo à fortificação
que abrigava os detonadores da ponte e isso permitiu que os
paraquedistas atacassem rapidamente a posição,
eliminando os ocupantes e arrancando os fios que conectavam
os explosivos ao conjunto de detonadores, garantindo que a
ponte não pudesse ser destruída. Os restantes
defensores belgas resistiram ferozmente, montando vários
contra-ataques na tentativa de recapturar a ponte. Eles foram
repelidos com a ajuda de várias metralhadoras lançadas
de paraquedas. Os constantes ataques belgas fizeram com que
o grupo Concrete não fosse retirado e substituído
por um batalhão de infantaria até às
21h40. Eles sofreram perdas de sete mortos e vinte e quatro
feridos. Todos, exceto um dos dez planadores que transportavam
as tropas do grupo Iron, conseguiram pousar próximo
ao seu objetivo, a ponte em Kanne, mas enquanto desciam a
ponte foi destruída por várias explosões
desencadeadas pelos belgas. Ao contrário das guarnições
das outras duas pontes, os defensores em Kanne foram avisados,
pois a coluna mecanizada alemã que se dirigia à
ponte para reforçar o grupo Iron chegou vinte minutos
antes do previsto. Seu aparecimento arruinou qualquer chance
de um ataque surpresa e deu aos defensores tempo suficiente
para destruir a ponte. Quando os planadores pousaram, um deles
foi atingido por fogo antiaéreo e caiu no chão,
matando a maioria dos ocupantes. Os outros paraquedistas que
desceram em segurança atacaram as posições
belgas e eliminaram os defensores. Às 05h50, os paraquedistas
haviam assegurado a área, bem como uma vila vizinha,
mas foram então submetidas a um Forte contra-ataque
que só foi repelido com a ajuda dos Ju-87
Stuka. Os belgas lançaram vários outros
contra-ataques durante a noite, garantindo que as tropas alemães
não pudessem ser substituídas até a manhã
de 11 de maio. O grupo Iron sofreu as maiores baixas de todos
os três grupos de assalto designados para capturar as
pontes, com vinte e dois mortos e vinte e seis feridos, e
um destacamento foi feita prisioneiro pelos belgas, sendo
libertado mais tarde de um campo perto de Dunquerque. Os nove
planadores restantes que transportavam os homens do grupo
Granite pousaram com sucesso no teto do Forte Ében-Émael,
usando paraquedas para retardar sua descida e rapidamente
pará-los. As tropas emergiram rapidamente das aeronaves
e começaram a anexar cargas explosivas às posições
no topo do Forte que abrigavam as peças de artilharia
que poderiam atingir as três pontes já capturadas.
Na parte sul do Forte uma casamata de observação
de artilharia que abrigava três peças de artilharia
de 75mm foi destruída com uma carga mais pesada, que
derrubou a sua cúpula e parte do telhado do próprio
Forte. Uma torre transversal contendo mais duas peças
de artilharia, também foi destruída e então
se dirigiram a uma torre contendo outras três armas
de 75mm, a neutralizando parcialmente o que os forçou
a atacá-la pela segunda vez para destruí-la.
Outro par de canhões de 75mm em uma cúpula foi
destruído, assim como um quartel que abrigava tropas
belgas. No entanto, as tentativas de destruir duas torres
gêmeas com canhões de alto calibre montados em
uma cúpula giratória, era grande demais exigindo
o uso de tropas de dois planadores. Cargas foram afixadas
nas torres e detonadas, mas embora as sacudissem não
as destruíram e outros paraquedistas foram obrigados
a escalá-las e quebrar os canos das armas. Na seção
norte do Forte, ações semelhantes ocorriam,
à medida que os alemães corriam para destruir
ou de outra forma desativar as fortificações
com as peças de artilharia. Uma casamata que abrigava
várias metralhadoras cujos arcos de fogo cobriam o
lado oeste do Forte foi atacada com um lança-chamas
para forçar os soldados belgas que manejavam as armas
a recuar e, em seguida, detonaram cargas para desativá-la.
Complicações inesperadas vieram de uma cúpula
retrátil que abrigava duas peças de artilharia
de 75mm, onde o rápido disparo das armas fez com que
o apoio aéreo fosse convocado e um esquadrão
de Ju-87 Stuka bombardeou a cúpula. Embora
as bombas não a tenham destruído, as explosões
forçaram os belgas a retraí-la durante o resto
dos combates. Quaisquer entradas e saídas exteriores
localizadas pelas tropas alemães foram destruídas
com explosivos para selar a guarnição dentro
do Forte, dando à guarnição poucas oportunidades
de tentar um contra-ataque. Os paraquedistas atingiram o objetivo
inicial de destruir ou inutilizar as peças de artilharia
que poderiam ter utilizado para bombardear as pontes capturadas,
mas ainda enfrentaram alguns outros pequenos obstáculos,
posições com armas antiaéreas e metralhadoras
pesadas. À medida que esses objetivos secundários
eram atacados, um único planador pousou no topo do
Forte de onde emergiu o tenente Rudolf Witzig cujo planador
havia pousado involuntariamente em território alemão,
então ele pediu outro rebocador pelo rádio chegando
a tempo de comandar seus homens no ataque. Tendo alcançado
os seus objetivos principais, os paraquedistas agora teriam
que manter a posição repelindo os contra-ataques
belgas, que começaram quase imediatamente. Eram realizados
por formações de infantaria belga sem apoio
de artilharia e foram descoordenados, permitindo que os alemães
os detessem com fogo de metralhadoras. Patrulhas também
foram utilizadas para garantir que a guarnição
belga permanecesse sitiada no interior do Forte e não
tentasse retomá-lo. Diante deste ataque, a guarnição
belga, que contava com apenas 750 homens de uma força
regular de 1.200, se rendeu às 12h30 com baixas de
23 homens mortos e 59 feridos. Os alemães capturaram
mais de mil soldados belgas. O grupo Granite sofreu seis mortos
e dezenove feridos. O ataque aerotransportado às três
pontes e ao Forte Ében-Émael foi um sucesso
geral para o Fallschirmjäger, considerado como
um feito de extrema ousadia e decisivo para o sucesso do Fall
Gelb, com as peças de artilharia neutralizadas
e duas das pontes alvo capturadas antes que pudessem ser destruídas.
Isto permitiu que a infantaria e os blindados do 18º
Exército contornassem outras defesas belgas e entrassem
no coração do país.