À medida que as Forças Armadas Russas continuam sua
invasão da Ucrânia, poucas informações
foram publicadas sobre as atividades das Forças de Operações
Especiais (SOF - Special Operations Forces) ucranianas,
que estão desempenhando um papel fundamental no conflito.
O Comando de Operações Especiais (SOCOM - Special
Operations Command) foi estabelecido em dezembro de 2015 e
se expandiu para formar quatro regimentos no Exército, três
regimentos na Marinha e dois centros de treinamento. Seu efetivo
é de aproximadamente 2.000 membros e desde a sua criação
colocou-se ênfase no desenvolvimento de uma força moderna
com equipamentos e práticas alinhadas com as unidades congêneres
da OTAN. As unidades forças especiais do exército
ucraniano incluem o 3º e 8º Regimentos SOF, com base em
Kirovograd e Khmelnytskyi, respectivamente, e encarregados de realizar
ações diretas e missões especiais de reconhecimento
como parte de campanhas de segurança interna mais amplas.
Cada unidade tem 300 soldados e é subdividida em companhias
e pelotões com operadores especializados em engenharia de
combate, armas pesadas, comunicações e medicina de
combate. Alguns destes recebem treinamento adicional, como paraquedismo
em queda livre, operações em clima frio e guerra nas
montanhas. Em março de 2020, o 3º Regimento iniciou
o processo de certificação da OTAN, permitindo-lhe
apoiar as operações da coligação através
da disponibilização de um Grupo de Tarefa de Operações
Especiais Terrestre. Também incluída na SOF do Exército
ucraniano está a 61ª Brigada de Infantaria Jager,
que foi estabelecida em abril de 2019 para fornecer uma capacidade
semelhante ao 75º Regimento de Rangers do Exército
americano. A Brigada pode ser encarregada de missões de coleta
de inteligência e proteção de força para
apoiar os 3º e 8º Regimentos em particular, sendo também
capaz de realizar operações independentes. O Centro
de Treinamento em Khmelnytskyi administra o Curso de Qualificação
da SOF, que seleciona voluntários de todas as Forças
Armadas. O
processo de seleção foi desenvolvido em conjunto com
a Estônia, Letônia e Lituânia (estes, parceiros
da OTAN) com apenas 20% dos candidatos passando com sucesso no curso
de seis meses e progredindo para o treinamento de especialização.
O Centro também se beneficiou de um investimento de US$ 1,5
milhão do Departamento de Defesa dos EUA, outro importante
apoiador do SOCOM ucraniano.
Os instrutores
são preparados em uma instalação apoiada pelo
Joint Multinational Training Group-Ukraine (JMTG-U), liderado
pelos EUA, onde recebem qualificação em navegação
terrestre, pontaria avançada e liderança aprimorada,
além de táticas, técnicas e procedimentos de
pequenas unidades e guerra urbana. O Centro de Treinamento possui
uma área de tiro real onde as SOF treinam com armas pequenas,
morteiros, metralhadoras, lançadores de granadas automáticos,
rifles de precisão e pistolas. As unidades especiais da Marinha
ucraniana incluem o 140º Centro de Forças de Operações
Especiais (considerada a melhor dentre todas as tropas de elite
das Forças Armadas da Ucrânia), o 801º Destacamento
Anti-Diversionário e o 73º Centro Marítimo SOF,
com sede em Khmelnytskyi, Mykolaiv, Ochakiv e Ilha Maysky, respectivamente.
Embora capazes de conduzir operações terrestres, as
unidades especiais da Marinha estão focadas na segurança
no Mar Negro, abrangendo missões que vão desde contra-terrorismo
marítimo e mergulho de combate até reconhecimento
especial e demolições submarinas. Similares às
do Exército ucraniano, as unidades navais também são
divididas em companhias e pelotões de operações
especiais. Em 2021, o 140º Centro foi certificado para operar
com a OTAN após iniciativas bilaterais de treinamento com
o US Naval Special Warfare Command (Comando de Guerra Especial
Naval dos EUA).
Em 2019, o Ministério da Defesa também estabeleceu
uma unidade SOF Air Component dedicada a apoiar as unidades
SOF do Exército e da Marinha. Equipado com helicópteros
Mil Mi-8T e aeronaves de transporte Antonov An-70,
o SOF Air Component facilita a inserção,
extração e reabastecimento de pequenas equipes de
unidades em todo o país. As unidades de operações
especiais também trabalham em estreita colaboração
com as equipes de Contra-Terrorismo Omega e Vega
do Ministério do Interior da Ucrânia, bem como com
a unidade de missão especial Azov da Guarda Nacional.
O apoio
da comunidade internacional de Forças Especiais veio de países
como Canadá, Dinamarca, Romênia e Grã-Bretanha,
que apoiaram a capacidade das SOFs ucranianas de combater as tropas
invasoras russas em particular. Nos
últimos anos, as SOFs ucranianas participaram de um grande
número de treinamentos conjuntos com parceiros da OTAN e
não membros da OTAN. Os exemplos incluem vários programas
de treinamento com o Comando de Operações Especiais
dos EUA na Europa para “estender os níveis de cooperação
e confiança para se defender de forma mais eficaz contra
a agressão russa”. Os exercícios incluíram
o uso de aeronaves CV-22 Osprey para facilitar a inserção
de corda rápida em áreas-alvo, além do apoio
de aeronaves MC-130J Commando II. Simultaneamente, as SOF
ucranianas continuaram a apoiar a Operação de Forças
Conjuntas (JFO) no leste da Ucrânia após a anexação
da Crimeia em 2014. Com o objetivo de eliminar gradualmente
seu estoque de equipamentos russos até 2025, o SOCOM ucraniano
continua a receber melhorias em material ocidental, uma tendência
que foi acelerada durante o curso deste último conflito.
As SOF da Ucrânia se assemelham muito aos seus parceiros da
OTAN, normalmente vestidos com uniformes de padrão
MultiCam, coletes à prova de balas e capacetes
de comunicações integradas modulares. Além
dos sistemas de armas NLAW, Javelin, AT4 e RPG-26, o SOF
ucraniano também recebeu várias centenas de lançadores
de foguetes termobáricos RPV-16 da Ukroboronprom
em 2020, após extensos testes de aceitação.
No entanto, qualquer emprego durante a campanha atual ainda não
foi confirmado.
Em termos de
mobilidade, as forças especiais operam veículos 4x4
HUMMVE, veículos blindados 4x4 Kamrat (projetado
para apoiar operações especiais com inserção
tática e protegida de até 10 operadores) e barcos
infláveis de casco rígido, fornecidos pelos EUA. Também
operam uma plataforma móvel de morteiro de 120 mm, integrada
a bordo do veículo blindado multiuso Bars-8. Além
da sua frota existente de helicópteros russos, as unidades
têm acesso aos helicópteros MoI H125 e H225
da Airbus Helicopters. Em termos de coleta de inteligência,
são apoiadas pelos veículos aéreos de combate
não tripulados Bayraktar TB2 (UCAV), dos quais um
total de 12 unidades foram adquiridas na Turquia. Versáteis
e eficientes, podem ser usados para vigilância, aquisição
de alvos, reconhecimento (ISTAR), bem como missões
de apoio de fogo, podendo serem equipados com cargas úteis
de sensores e uma seleção de munições.
Entre as principais armas de uso pessoal podemos citar: pistolas
automáticas Fort-20 e Glock 17, ambas cal. 9mm Parabellum;
submetralhadoras H&K
MP-5 e Fort-224, ambas cal. 9mm Parabellum; fuzis
de assalto Fort-221, Zbroyar Z-15 (versão local
do Colt AR-15) e Malyuk, todos de cal. 5.56mm;
fuzis sniper VSS Vintorez, cal. 9mm e Fort-301
(versão local do Galil Galatz israelense),
cal. 7.62mm; e fuzil anti-material Barrett M107A1, calibre
.50BMG. Após mais de um mês de guerra, uma das características
mais intrigantes é a logística desajeitada e em grande
parte ineficiente que até agora perseguiu as operações
ofensivas russas. Neste contexto a eficácia das forças
ucranianas também deve ser notada, que montaram uma resistência
rígida e inteligente destinada a interromper a logística
e as linhas de comunicação russas, com resultados
notáveis. E as Forças de Operações Especiais
ucranianas (SOF) estão emergindo como um componente central
da estratégia do governo de Kiev para corroer a sustentabilidade
da invasão russa, aumentando seus custos humanos e materiais
por meio de uma combinação de táticas de guerrilha,
defesa móvel e contra-ataques pontuais.