Fundos secretos

Como são aplicados, secretamente, parte dos recursos do orçamento militar americano.



Unmanned Global Strike System  ou  UGSS, da Northrop Grumman A Força Aérea Americana (USAF) planeja colocar em serviço até 2018 o seu bombardeiro de próxima geração (Next Generation Bomber - NGB). Porém, de acordo com o orçamento de defesa aprovado para o ano fiscal de 2009, a Força não investirá nenhum centavo de dólar no projeto nos próximos três anos. Claro que isto não corresponde à realidade. Pelo menos no papel. Um programa de desenvolvimento e demonstração do NGB já está sendo contratado junto a Northrop Grumman, empresa que possui estudos sobre um bombardeiro não tripulado (Unmanned Global Strike System, UGSS), baseado em seu veículo aéreo de combate não tripulado X-47C, com cerca de 5,20 m de envergadura e dois motores GE CF34. Este é apenas o mais recente, dos muitos projetos desenvolvidos nos últimos 25 anos, no escuro mundo dos programas militares secretos, os quais devem absorver no orçamento para 2009, algo em torno de 43% dos recursos para "Pesquisa e Desenvolvimento" da US Air Force. Por serem considerados como "classificados" estes programas não são beneficiados com verbas diretas no orçamento anual, sendo estas rubricas contábeis quase sempre "maquiadas" como se fossem para utilização em outras finalidades.

Existem grandes interesses em jogo, com envolvimento das gigantes industriais que mantém laboratórios especializados, com centenas de engenheiros trabalhando nestes projetos, chamados pelos americanos de "black projects" por sua confidencialidade, como o Skunk Works, da Lockheed Martin, e o Phantom Works, da Boeing. A magnitude dos recursos alocados para tal finalidade é difícil de ser mensurada por uma razão: o orçamento do Pentágono engloba também o orçamento para todo o setor de Inteligência dos Estados Unidos. Contudo, analisando documentos não confidenciais, consegue-se identificar direcionamento de gastos para os "black projects" basicamente em três áreas do orçamento para 2009: em "Pesquisa e Desenvolvimento" a USAF foi contemplada com US$ 17,5 bilhões para "desenvolvimento de sistemas operacionais", mas os itens listados nesta rubrica totalizam somente US$ 7,2 bilhões (diferença de US$ 10,3 bilhões); em "Outros Equipamentos de Apoio e Manutenção de Bases" são listados itens no total de US$ 800 milhões, tendo esta rubrica sido contemplada com US$ 13,4 bilhões (diferença de US$ 12,6 bilhões); e em "Outros Programas" há uma disponibilidade de US$ 11,7 bilhões.

Vista aérea da base de Groom Lake, em Nevada,  conhecida como "Área 51"O Exército e a Marinha também têm seus "black projects". A US Navy planeja gastar em 2009 cerca de US$ 1,2 bilhões em projetos com codinomes como "Chalk Eagle" e "Link Plumeria", que vêm recebendo verbas do orçamento há anos. Muitos dos fundos secretos ou "fundos negros" (black funds) estão associados às atividades da comunidade de Inteligência, incluindo-se aí gastos tanto com operações secretas em outros países quanto com material administrativo para a CIA ou para a NSA, cada item devidamente denominado como "classificado". Uma boa medida do desenvolvimento de programas secretos de novas aeronaves para a USAF, são os testes de alta segurança realizados na base de Groom Lake, Nevada, popularmente celebrizada como "Área 51", construída em 1955 como uma base temporária para os testes do avião espião U-2. Imagens de satélite mostram a primeira grande construção feita em Groom Lake desde os anos 80, um grande hangar na ala sudeste da base, além da modernização e ampliação dos hangares da ala Sul.

Evidentemente que estas verbas não são desviadas para outras finalidades que não a sua aplicação em sistemas de defesa. Apenas não são debatidas ou solicitadas abertamente por motivos de segurança, mas mesmo assim o Congresso americano mantém diversas comissões que analisam os itens do orçamento militar antes de sua aprovação em plenário. Uma preocupação comum é o possível desperdício na aplicação de recursos nos "black projects", por falta de visão dos planejadores ou pela duplicação de esforços entre os projetos abertos e os programas secretos. Os congressistas desejam um pouco mais de transparência no controle destes gastos, não só como uma satisfação ao contibuinte americano, mas também como uma forma de direcionar melhor a aplicação das verbas, evitando utilizar bilhões de dólares no desenvolvimento de armas que terão pouca utilidade no futuro ou não atenderão plenamente aos requisitos operacionais das Forças Armadas, acabando por serem impiedosamente cancelados, como foram os programas do sistema de artilharia Crusader e do helicóptero de ataque AH-66 Comanche.





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