Mísseis
Scud: localizar e destruir Como equipes Delta e SAS se infiltraram atrás das linhas inimigas para neutralizar os mísseis Scud iraquianos, na Guerra do Golfo em 1991. |
A intenção de Hussein era clara: dividir a Coalizão levando Israel a atacar e, assim, tornar-se um participante ativo na guerra. Parecia haver pouca dúvida de que, no mínimo, essa ação faria com que a Síria, o Egito e outros abandonassem a Coalizão. Na pior das hipóteses, os países árabes ficariam do lado do Iraque e provocar uma guerra total no Oriente Médio. Por essa razão, a destruição de Scud tornou-se a principal prioridade dos planejadores de guerra aliados. O foco principal da missão era a localização e destruição dos locais de lançamento fixos dos Scud. Em agosto de 1990, o Departamento de Defesa havia descoberto cinco desses locais, com 28 lançadores, utilizando-se de aeronaves de reconhecimento U-2R, de vigilância terrestre Boeing E-8 JSTARS e as imagens de satélite, mas essas ferramentas mostraram-se insuficientes no monitoramento dos lançadores móveis. Estes se movimentavam apenas de noite, aproveitando-se das características do terreno como cobertura, e durante o dia os TEL escondiam-se debaixo de viadutos ou dentro de grandes tubulações. Assim, a decisão tomada foi a de enviar forças de operações especiais para caçar os Scud no solo. O Destacamento Operacional das Forças Especiais do Exército dos EUA (SFOD-D), mais conhecido como Força Delta, e o Serviço Aéreo Especial Britânico (SAS - Special Air Service) foram selecionados para realizar o que se tornaria uma das maiores operações contraterroristas da história. O alto oficial britânico no Golfo, o tenente-general Sir Peter de la Billière, foi o primeiro a convencer o general norte-americano Norman Schwarzkopf, cético quanto ao uso de forças de operações especiais, que as equipes do SAS poderiam ser inseridas atrás das linhas inimigas para conduzir ações de sabotagem contra o inimigo. Para surpresa de alguns, esta sugestão foi aprovada e dois esquadrões “Sabre” (metade da força de combate do Regimento) foram mobilizados e começaram a operar em 20 de janeiro de 1991. Em 24 de janeiro, porém, a missão foi alterada para se concentrar na caça de Scud no oeste do Iraque, em uma extensa área que ia do aeródromo H-2, do sul da rodovia 10 até a fronteira com a Arábia Saudita, que ficou conhecida conhecida como "Scud Alley" ("Alameda dos Scud"). Um esquadrão Delta chegou à Arábia Saudita no início de fevereiro de 1991, como parte da Força-Tarefa Conjunta de Operações Especiais (JSOTF). Após um período de planejamento intenso, as equipes se infiltraram no oeste do Iraque utilizando helicópteros MH-60 Black Hawk e MH-47E Chinook do 160º Regimento de Aviação de Operações Especiais (SOAR). O elemento norte-americano foi designado para caçar os mísseis na área noroeste da rodovia 10 perto de Al Qaim, conhecida como “Scud Boulevard”.
Não demorou muito, no entanto, antes que uma grande falha nas operações de caça ao Scud se tornasse aparente: por falhas de comunicação entre os comandos e a Inteligência, os tempos de resposta atingiram em média 60 minutos inaceitáveis, durante os quais alguns alvos conseguiram escapar ilesos. O sistema C3I, que se mostrou tão eficaz para o planejamento antecipado de ataques aéreos convencionais, mostrou-se insuficiente para incorporar informações em tempo real enviadas pelos soldados. A fim de facilitar as comunicações entre as equipes de terra e o poder aéreo da Coalizão, o SAS solicitou e foi aprovada a colocação de oficiais de ligação no Centro Tático de Controle Aéreo (TACC) em Riad. Como resultado, foram feitas melhorias que permitiram uma comunicação mais direta. Isso foi reforçado pela prática de manter as aeronaves de ataque constantemente no ar, prontas para responder imediatamente quando um alvo adequado era localizado. Aeronaves da Coalizão também foram alertadas sobre a presença de forças especiais aliadas operando no oeste do Iraque, em um esforço para evitar qualquer tipo de “fogo amigo”. Estas missões não foram sem perda para os caçadores. Um equipe Delta estava conduzindo uma operação quando um de seus membros foi ferido em uma queda de um penhasco e exigiu Medevac, imediatamente respondida pelo pessoal do 160º SOAR. Aproximadamente às 03:00 do dia 21 de fevereiro, quatro pilotos e tripulantes e três operadores da Delta foram mortos quando um helicóptero MH-60 Black Hawk caiu em uma duna de areia durante condições climáticas de visibilidade zero perto do aeroporto de Ar Ar. Da mesma forma, uma equipe SAS de oito homens foi comprometida durante uma missão de reconhecimento. Quatro de seus homens morreram durante a evasão depois que foram surpreendidos por patrulhas iraquianas. Comandos de ambos os grupos também foram feridos em combates com as forças iraquianas em várias outras ocasiões. O resultado final da operação de caça aos Scud baseados em terra, sob uma perspectiva militar, ainda é uma questão controversa. Não há dúvida de que as aeronaves da Coalizão atacaram um número de chamarizes e outros alvos que somente a análise pós-ação revelou não eram TEL transportando Scud. No final da guerra, a UNSCOM encontrou 62 mísseis al-Hussein completos, seis TEL MAZ-543 e quatro outros tipos de TEL, juntamente com partes de outros 88 mísseis e nove TEL. Os iraquianos também eram suspeitos de esconder outros mísseis das equipes de inspeção da ONU. Quatorze dos 28 sites fixos também foram destruídos. De uma perspectiva política, no entanto, a caça aos Scud foi um sucesso absoluto e pode ter fornecido uma das maiores, e menos conhecidas, contribuições para a vitória das forças da Coalizão na Guerra do Golfo. |
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