Programa FX e o Fome Zero

Sukhoi SU-35Frustração. Talvez está seja a palavra que melhor expresse o sentimento não só de toda uma instituição, no caso a Força Aérea Brasileira, como também daqueles que verdadeiramente sejam apaixonados pela aviação militar, com o adiamento do resultado final do Programa FX, que indicaria nosso futuro caça de superioridade aérea, determinado pelo presidente Lula logo no terceiro dia de seu mandato. Oficialmente esta medida visa direcionar todos os esforços para o Programa Fome Zero, que pretende erradicar a miséria e dar o que comer aos brasileiros carentes. Atitude elogiável, porém questionável. O dinheiro para a compra dos caças não sairá do orçamento da União, já que o fornecedor do equipamento é que garantiria o financiamento, através de bancos internacionais ou órgãos de seus países de origem, com prazo de carência e 15 anos para amortização. Fica a dúvida: se não é dinheiro, o que provocou esta atitude?

Em "off", diz-se que Lula não queria tomar uma decisão precipitada, envolvendo recursos de US$ 700 milhões ou mais, sem estar plenamente inteirado de todos os detalhes da licitação e dos relatórios técnicos, evitando assim, ser acusado de favorecer este ou aquele concorrente. Conjecturações à parte, o fato é que a expectativa pelo resultado da concorrência do FX era muito grande. Desde julho de 2001, quando o governo aprovou o plano de reaparelhamento da Força Aérea, denominado Programa de Fortalecimento do Controle do Espaço Aéreo Brasileiro, até hoje, venho acompanhando tudo sobre o assunto, colhendo dados na internet, em revistas especializadas e jornais. Só análises, com os prós e contras de cada aeronave, li umas vinte. Recortes e fotocópias encheram uma pasta. Em janeiro do ano passado, em meu primeiro artigo para esta seção, escrevia justamente sobre a minha alegria em poder acompanhar um processo como este e poder presenciar o seu desfecho, já que pelo cronograma original a decisão final seria ainda no governo FHC. Quem de nós não imaginou como ficariam os Sukhois SU-35, Mirages 2000 BR, F-16C Block 52 ou Gripens JAS-39 com as cores e insígnias da FAB, riscando os céus da nação de norte a sul, vislumbrando uma força aérea realmente pronta para os desafios do século XXI.

Mirage 2000-5 Mk2 Por outro lado, como seres humanos conscientes e cristãos jamais deixaríamos de apoiar uma iniciativa do porte do Fome Zero, que envolverá toda a sociedade civil, estatais, ONGs, igrejas das mais diversas crenças e as próprias Forças Armadas. E estas, espelho do povo brasileiro, não se furtaram em colaborar. Não podemos ser militarmente fortes, com milhões passando fome, índices de mortalidade infantil absurdos, falta de saneamento e nossos irmãos morando em favelas ou embaixo de viadutos. Não devemos ser comparados com a Índia, Paquistão, Iraque ou Coréia do Norte. Agora, se queremos abandonar o sub-desenvolvimento e ombrear com as nações mais ricas do mundo, ter voz ativa nas principais decisões internacionais, defender nossos interesses econômicos e proteger adequadamente nosso solo e nossas riquezas, devemos ter Forças Armadas à altura.

Nenhuma grande nação na História se impôs somente pela poder econômico. Havia sempre o respaldo de seu poderio militar. Se as decisões tomadas neste momento, em relação a cortes e contingenciamento de verbas para a Defesa, se refletirão negativamente no futuro, só o tempo dirá. E se teremos nossos pilotos voando algum desses magníficos caças, devemos aguardar por mais um ano. Ou será que continuaremos comprando equipamentos ultrapassados, de segunda mão e jogaremos no lixo o excelente trabalho dos técnicos da Aeronáutica, que nestes quase dois anos produziram mais de 1.500 páginas de relatórios? Por hora contentemo-nos em ajudar a aplacar a fome dos necessitados e desejar que nossos governantes tenham lucidez e discernimento para que suas próximas decisões coloquem o Brasil no rumo certo.





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