Anatomia de um assassinato

Como a CIA idealizou variados e criativos métodos para dissimular um assassinato.



Emblema da CIANa primavera de 1960 a equipe de serviços técnicos da CIA (Central Intelligence Agency) estudava uma forma de desmoralizar Fidel Castro, destruindo sua imagem de homem forte. Um dos planos consistia em eliminar a barba, sobrancelhas e pêlos do corpo, borrifando em seus sapatos sais de tálio, uma substância depilatória que dependendo da dose poderia até provocar paralisia. Outro seria drogá-lo com LSD, impregnando seus charutos com a droga, mas os planos foram abortados. Se a ordem fosse eliminá-lo, os técnicos da CIA tinham preparado uma caixa de charutos explosivos, uma roupa de mergulho contaminada com bactérias da tuberculose ou cápsulas de veneno para serem colocadas em sua comida, porém Fidel está vivo até hoje.

A capacidade de assassinato da CIA, que chegou ao seu ápice nos anos 60, teve sua origem nos programas iniciados durante a Segunda Guerra Mundial, com a criação de um grupo de especialistas do governo, a "Divisão 19", que desenvolvia um arsenal de venenos químicos e biológicos como a botulina, uma toxina poderosa. No período pós-guerra mercenários foram contratados entre os nacionalistas ucranianos para eliminar agentes soviéticos e a CIA estabeleceu uma unidade de "assuntos escusos" que seriam tratados pelo Technical Services Staff (TSS). No prédio onde funcionava o TSS haviam armas e munições soviéticas de todos os tipos e calibres, para que a autoria dos assassinatos fosse imputada aos comunistas, armazenagem de venenos e bacilos, e onde se experimentavam os engenhosos artefatos que seriam usados nas ações de assassinato: guarda-chuvas, cigarros, canetas e câmeras adaptados para disparar balas ou alojar facas e baionetas; farinha de trigo explosiva que poderia ser usada para cozinhar; equipamentos de escuta ou vigilância em forma de alfinetes de gravata ou abotoaduras.

Produtos usados pela CIA para dissimular assassinatos.A CIA e o TSS consideraram o assassinato de várias personalidades internacionais, como por exemplo o do presidente do Egito, Gemal Nasser, que recebeu cigarros impregnados com botulismo e o do coronel iraquiano Abdul Kassem, cuja relação com os soviéticos era temida, que ganhou de presente um lenço com um monograma envenenado. Contudo Nasser nunca recebeu seus cigarros e, com certeza, Kassem nunca usou o seu lenço. Outros líderes estiveram na mira da agência, mas por motivos diversos os planos falharam: Adolf Hitler, Ngo Dinh Diem (Vietnã do Sul), Rafael Trujillo (República Dominicana), Patrice Lumumba (Congo) e Chou En Lai (China). Investigações realizadas pelo Senado americano nos anos 70, não conseguiram esclarecer se a CIA tinha ou não a autorização do presidente para suas tentativas de assassinato.

Durante a presidência de Jimmy Carter estes atos foram considerados ilegais, mas quando Ronald Reagan assumiu, os programas de ação clandestina da CIA aumentaram espetacularmente, graças à direção de William Casey. Em tempos de paz existem poucos incentivos para adotar a política de assassinatos. Porém quando surge uma crise, a execução transforma-se em uma atraente opção para os especialistas em operações clandestinas e isto não se constitui em um dilema moral para eles.





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